Idhiótis?

         Vivemos tempos ásperos. As pessoas não se cumprimentam, cospem na rua, xingam-se nos cruzamentos, e a gentileza é um cão sem dono. A solidão estampada nas redes sociais, e os movimentos sociais desajeitados - aumentaram o preço do ônibus, a culpa é dos lojistas da Paulista, atacaaar! 
         A culpa é sempre do outro, diga-se de passagem. Da política, do Governo, dos pastores homofóbicos, dos homossexuais que querem união estável, do Estado que quer dar aborto de graça... um simples bom dia, boa tarde, boa noite. Ninguém percebe, ninguém aprende...ainda somos coletivos - e por isso andamos de ônibus - e essa busca pela geografia do próprio umbigo está nos precipitando num abismo de conflitos fúteis, mesquinhos e desnecessários, estrategicamente forjado por quem nos vende o antídoto para a dor da solidão - ah, o consumo...que emplasto incrível, que bálsamo para nossas angústias individuais! E nos tornamos idiotas, etimologicamente falando: do grego antigo ἴδιώτης (idhiótis) , "um cidadão privado, individual". Ilusoriamente, todavia, individuais. Para os ideólogos e para o mercado, massa de consumo, alienante de preferência.