segunda-feira, 2 de julho de 2012

Para uma crítica de "O Castelo", de Franz Kafka


          


     Kafka escreveu uma das obras mais impressionantes que já tive oportunidade de ler. Particularmente eu o considero o expoente do século XX e uma das mentes mais brilhantes de todos os tempos no mundo. Particularidades pessoais de sua biografia talvez contestem minha preferência, mas aceitemos o fato de que é uma dádiva que sua obra tenha chegado até nós contra sua vontade, uma vez que seu último desejo era de que seu melhor amigo, Max Brod, a queimasse. Sorte a nossa...
     Bem, mas falemos de O Castelo: nunca vi, em toda a minha vida, tamanho fôlego narrativo. Os diálogos são truncados, cheios de autorreferências e ainda assim encantadores e magnéticos. Não dá para se perder na leitura porque as falas são muito bem conduzidas, ainda que os interlocutores sejam exagerados e a trama seja um labirinto insondável que leva ao castelo, inalcançável e longínquo. Fato que chama bastante a atenção: os personagens são consistentes, ganham relevo à medida que solicitados no enredo e todos têm importância fundamental em cada ato, e suas falas são monólogos primorosos, cada delas uma gota da grandeza da alma humana, suas angústias, seus anseios, seu valor, seu paradoxos, suas culpas, seus desejos. Enfim, um retrato da "náusea" moderna, no sentido sartriano, e por que não, uma representação do Sísifo moderno, rolando a pedra ladeira acima, em direção ao Castelo inatingível que, fatalmente, os rolará de volta, mostrando a inutilidade de sua busca.