quinta-feira, 28 de junho de 2012

E o que ela disse...


Nada de erudito e culto, nada de eloquente se disse senão o monumental e dialético silêncio. E nada mais ácido e corrosivo para a alma humana que o vazio sonoro, sobretudo àquelas almas que se entreolhavam como na iminência de um xeque-mate. Seus olhos pardos se consumiam. O que há de mais dialético que os que se sondam sem palavras?
- "O que move o mundo.." - ele tentou, quebrando o silêncio.
- Não estou contrariada, estou confusa e atônita... como queria que eu estivesse!?
      A palavra destitui o amor e tudo mais do que é belo. A palavra é o buraco-negro do belo, e nada sobrevive a sua fúria...por que tinham de recorrer a esse monstro destruidor de atmosferas humanas insondáveis e tórridas? Libertar as bestas de Pandora?
       Seguiu-se semelhante silêncio, quebrado levemente, segundo a segundo, pelas marteladas do relógio de parede, presente de casamento, ou alguma motocicleta na rua. E o que havia de ser dito? Fitavam-se, o que mais podiam querer? Não há nada a dizer quando se sabe culpado e com os olhos reconhece e expressa sua culpa, ou antes dramatiza a culpa que não sente mas deveria sentir ou parecer que sente. Era o que ela procurava em seu olhar, fitando-o de soslaio. Era talvez o que ele dissimulava, também fingindo indiferença. Poderiam ficar por horas nesse jogo de almas dramáticas, até que suas mãos se encontrassem e culpa e simulacro tornassem ternura nos seus olhares cansados do confronto. A rusga daria lugar ao lasso e ao aconchego de braços e pernas, suspiros e cheiros, e a paz dos corpos nus e saciados.